quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O encontro




E foi então que a menina  corria desvairada  como se algo ou alguém  a esperasse com urgência perto dali. Para ela, por mais esquisito que lhe parecesse o tal fato da corrida, (foi de fato estranho a quem  via), mas  somente ela sabia a real causa do que estava lhe acontecendo, e isso bastava.
  Se sentia  rara naquela tarde pacata na cidadezinha da praça, do coreto que remetia a infância bem vivida.Recebia  a essência perdida que finalmente tocava  sua alma respondendo  e expondo como uma verdade por anos perdida. Mas isso naquele momento  já não  fazia mais parte das reflexões que por anos a atormentaram, dessa vez era dentro da sua emoção lógica, obvia, precisa.
  Corria porque enfim encontrara. Só ela sabia o quanto era naquele dia perfeita dentro da sua loucura boa. Ela, que percorreu tantas estradas, tantas sensações subjetivas que ora lhe traziam ânsia, ora eram o próprio ar que lhe faltava, sequer conseguia sorrir as velhas senhoras como sempre  fazia . Desta vez não lia todos os letreiros da rua como tinha por mania, simplesmente sorria para si mesma e a leitura que fazia era aquela que vinha de dentro lhe deixando clara de estar vivendo o que um dia sua mãe profetizara , o grande encontro.
    Por dentro sofria de conexões totalmente voltadas a dança interior.Tinha medo de perder contato, como havia acontecendo  diversas  vezes desde seus nove anos, mas a sensação era tão segura que naquele momento sabia ser a conexão perfeita, aquela de que definitivamente não deveria temer.

   Corria porque seu pensamento recluso, progredia a cada trote e assim lhe vinham como de presente as respostas, que dessa vez não eram subjetivas, eram todas perfeitas.
  Ela, que tantas vezes se olhou no espelho e que por mais que visse a imagem concreta de si mesma, não reconhecia a veracidade do tal fato, sabia que o espelho lhe refletia, mas não lhe contemplava. Sentia-se dessa vez completa, era ela naquela tarde a até o fim dos seus dias a verdade na sua forma mais pura. Foi assim o encontro.




Anjo traído

Sou anjo traído
À procura do culpado, que me fez excluído e fugiu no final.
Seria uma mulher, um homem, demônios presos na terra ou pessoa qualquer?
Caberia a eu encontrá-la , atacá-la, matá-la ou somente incumbí- la de concertar seus erros. Teria ela esse poder ? Na sua busca me encontrei.
Caminhei dias por bairros onde a natureza foi cruel, pois lá deveria estar quem me fez tanto mal e certamente explicaria o porque afinal.
Nas ruas cinzentas me deparei com homens vivendo como animais, comendo uns aos outros, trajando vestes rasgadas e vomitando palavras doidas.
Estive com mães que se sentiam culpadas, filhos nutrindo ódio, casais sem esperança de vida, pastores enganadores, olhares carnais.
Sofri de múltipla intencionalidade, era eu, anjo afinal, o gene forte de minha mãe, ou acabara me transformando em humana que sente raiva de coisa qualquer ?
Havia me adaptado na terra, deixado de ser leve, ou seria apenas mais uma das provações celestes em busca de minha força interior maior?
Foram tempos de personalidades latentes, bipolares, crescentes.
Carregados de vestes pesadas, tempestades escuras, contagiando meu ser.
Ao final, tanta andança e nada constatado, o inimigo não estava longe, foragido, enlatado.
Era eu e estava ao meu lado. Num instante permaneci pasma, me calei e meu pensamento foi transformado em sensações de pequenez.
Quando pude enxergar, chorei como humana, havia eu dessa vez perdido o sentimento angelical e traído a minha própria causa celestial?
De resposta, recebi o dom do auto- perdão, vindo aos montes e as lágrimas cessaram de vez. Minhas vestes se tornaram lilás, (nunca havia vestido lilás, verde sim, azul sim, mas lilás!)
Percebi que nunca deixaria de ser anjo, e que minha porção humana era o resquício de antepassados mortais que nunca se extinguiriam, pois um anjo pra ser anjo havia de ter provado de tudo e ainda assim, se sentir capaz.
Vitorioso por ter reconhecido que dentro de mim encontrei meu próprio inimigo. Saí cantarolando, e dançando ao traje lilás. Dessa vez fui aos bairros luminosos em busca de mais cores....




Anjo caído

Sou anjo caído,
Feito de essência mutável, em busca do dom da palavra, mesmo quando ninguém mais quer ouvir.

Nasci do improvável,
Mistura de humano e imortal,


Cresci contando estrelas, sendo ora profano ora deus,
Buscando nas perguntas uma resposta sagrada.

No sistema fiquei preso, sem entender porque vim a esse plano, seria missão ou engano?
Ajudar alguém daqui, conhecer alguém daqui, me conhecer?
Cair anjo.......... e levantar anjo...

Anjo Sonoro

Sou anjo sonoro,
Que vaga discreto por ruas vazias sem medo do nada.

Caminho sobre a luz,
Varado, sofrido, calado, com lembranças da infância na cidade perdida.

Busco no paraíso a palavra exata,
Dentro do juízo a verdade que nunca será absoluta.

Recorro ao improviso,
O silêncio, a palavra cantada, os berros aflitos de quem ainda não sabe nada.

Mergulho nas águas mornas em busca de um sinal.

No encontro das auras coloridas quem sabe estará lá o amigo ideal,
Revestido de pele clara, passos apressados, olhos abertos ao novo, alma nascente em busca da reflexão.

Serei eu meu amigo mais raro? Espelho côncavo ao encontro da cidade não mais perdida.

Angeloi


Respiro espírito, é noite.
Acordo corpo, é dia.

Alcanço vôos noturnos,
Quando acordo, volto.

Antes de voltar me percebo,
Me toco,
Posso ver eu em mim verdadeiramente.
Sinto a unicidade do encontro perfeito, respiro.

Enxergo enfim além da minha própria vaidade.
Procrio pensamentos conexos.
Entendo o mito e me basta.

Acordo leve, terrestre e mais em mim.
ANGELOI